Invisível | Parte 7

18:33


Compasso
"- Por que ninguém vê você? Além de mim? - ela continua andando, parece ser incapaz de ficar quieta, enquanto eu permaneço imóvel e sentado no mesmo lugar.
- Eu não sei como isso funciona, Alicia, mas acho que é porque eu quero que você me veja - o nome dela parece fazer meu coração vibrar, bem como a minha confissão inesperada.
- Ok… Mas quando e como isso aconteceu? - ela me lança um olhar rápido e pensativo.
- Eu perdi alguém muito importante pra mim há três anos, fiquei meses em casa sem ver ninguém, até que um dia eu sai e percebi que estava… bem… assim - minha voz se torna um sussurro - Eu nunca entendi realmente o que aconteceu, achei que havia ficado louco.
- E nunca tentou contato com mais ninguém além de mim? Sua família, amigos? - ela soa como um detetive tentando desvendar um caso complexo.
- É complicado… - eu balanço a cabeça.
- Isso não é bem uma resposta, Josh - ela repreende e me encara pacientemente.
- Eu não tenho contato com meus pais há anos, nem com a minha minha irmã… E bem, eu nunca tive muitos amigos - eu dou ombros.
- Hmmmm - é só o que ela diz, enquanto une suas mãos e parece montar um quebra cabeça mental - E por que quis que eu visse você? - ela se aproxima um pouco agora.
- Porque... - eu me encolho um pouco - Eu tinha que dizer algo a você e precisava que me visse.
Sua expressão fica confusa e ela para de andar - Me dizer algo? Como assim?
- Essa resposta vai ter que esperar, Alicia - minha voz soa decidida. Eu me levanto e caminho calmamente até a beirada do palco, meus olhos passeiam pela imensidão silenciosa.
- Josh, por favor, o que você quer dizer com isso? - ela se aproxima e fica atrás de mim, sua voz é cautelosa.
- Antes, tenho minhas perguntas para fazer - eu me viro para olhá-la e me deparo com seu rosto próximo ao meu.
Ela bufa irritada, mas diz - Vá em frente.
- Como é? Estar aqui em cima, com todos olhando para você? - eu me inclino inconscientemente em sua direção.
- Quando eu estou aqui - ela diz suavemente, como se alguma lembrança a puxasse para longe - Não existe ninguém, é como se eu fosse para outro mundo.
- Quando decidiu ser bailarina? - eu a estudo com os olhos gentis.
- Minha mãe costuma dizer que antes mesmo de nascer - ela sorri - Mas isso é papo de mãe orgulhosa - ela balança a cabeça - Eu sempre me senti livre dançando. Quando precisava relaxar, esquecer algo, eu nem precisava subir no palco, bastava fechar os olhos e me imaginar em cima de um - ela fecha os olhos e sorri.
Eu a fito fascinado. A paz que ela emite, apesar do seu constante movimento, me atinge como um vento forte.
- Mais uma? - ela questiona piscando.
- Por que estava lendo aquele péssimo romance? - minha voz sai mais leve agora, e um breve sorriso brota em meus lábios.
Ela revira os olhos e começa a ir para o outro lado do palco - Como eu disse, eu não sabia mais o que ler… E cá entre nós, eu até que gosto, ás vezes é bom acreditar em paixões arrebatadoras.
- Só as vezes - eu concordo sorrindo.
- Josh, você tem que ir, o pessoal está chegando - ela parece levemente desapontada - Mas você me deve uma resposta.
- Ela será sua em breve - eu dou as costas a ela, e então, tenho uma ideia - Será que eu poderia assisti-la ensaiando? - pergunto timidamente enquanto volto a encará-la.
Inicialmente ela parece determinada a dizer não, mas depois de alguns minutos ponderando, ela diz:
- Sim, mas nada de falar comigo durante, ou terão certeza que eu realmente sou louca - ela pisca brincalhona.
Os amigos de Alicia chegam, são 9 pessoas no total, todas elas esguias e graciosas. Suas conversas altas preenchem o local e logo todos estão em suas posições, respirando uniformes e concentrados. Já eu me encontro na primeira fileira, os olhos fixos na garota de cabelos negros, a respiração presa.
Quando a parte dela começa, Alicia se move como um dente de leão levado pelo vento, um feixe de luz guiado pelo sol. Seus pés são leves e seus movimentos hipnotizantes, seus braços parecem não pesar nada, e cada passo parece compor junto com a música.

Eu apenas a admiro atônito. Ela sempre soube quem queria ser. E de fato, em cima daquele palco, nada mais parece importar. Suspiro. Chegou a hora de contar toda a verdade."

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