Invisível | Parte 1

09:00

Hello hello, galerinha! Então, é o seguinte, estou com algumas histórias guardadas aqui comigo e resolvi começar a postar algumas aqui, o que acham? Se o retorno for legal e vocês quiserem continuação, eu vou lançando elas aqui dividas em partes. Conto com o feedback de vocês <3


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Ritual

"O silêncio domina esse lugar de paredes escuras. As mesinhas redondas se espalham pelo local de modo sistemático. As prateleiras lotadas de livros são imponentes. O ar cheira café. As pessoas caminham sem pressa, com olhos perdidos.

Agora estou parado na entrada. Do meu lado direito, livros de todas as cores e tamanhos. Do lado esquerdo, uma parede de vidro que me permite ver as pessoas vivendo suas vidas do lado de fora. O espaço é grande, mas um pouco estreito.  Cadeiras pretas. Luminárias baixas.

Ando lentamente até o meu lugar de sempre, parando apenas para encarar meu reflexo no vidro, é quase um ritual, que criei sem perceber. Cabelos escuros bagunçados, como se tivesse acabado de sair da cama, o que é exatamente o que fiz. Olhos azuis bem claros, sempre tão sensíveis à luz. Lábios finos, nariz curvilíneo, pele pálida, casaco preto, cachecol vermelho no pescoço. Suspiro.

Continuo meu caminho até minha seção favorita: poemas e poesias. Sento-me no chão, pois odeio o barulho das cadeiras sendo arrastadas. Recosto-me em uma das prateleiras com três livros puídos no colo. O chão é de madeira e está sempre lustrado. Concentro-me nas linhas retas que separam as diferentes cores em quadradinhos: bege claro, bege escuro, caramelo, marrom. Outra parte do ritual.

Abro o primeiro livro, leio os versos inicias. Flutuo em direção aos sentimentos contidos na página, crio mil imagens em meus pensamentos, tantas perguntas, poucas respostas. Quem inspirou tanta emoção? Quem foi amado com tanta intensidade? Quem enlouqueceu o autor com sua ausência? Suspiro.

Antes de passar para a próxima página, levanto meus olhos por alguns segundos. Essa é uma biblioteca pequena, que costuma ser frequentada pelas mesmas pessoas, por ser escondida em uma rua sem saída. Por essa razão, já memorizei todos os rostos que passam por aqui. Uns vem todos os dias, como eu. Outros apenas algumas vezes na semana.

A moça ruiva de tranças varia entre romance e fantasia. O homem de terno apenas toma o seu café encarando a parede de vidro. O menino de bicicleta enche sua mochila bege de livros novos todos os dias. Mas hoje, um novo personagem na pintura chama a minha atenção.

Ela tem os cabelos curtos e escuros. Olhos atentos e excitados tão pretos como eu nunca vi. Ela usa uma faixa florida no cabelo e roupas coloridas, para equilibrar o preto dos cabelos e olhos, imagino. Dedos ansiosos, café cheio de chantilly, um fone no ouvido. O livro em suas mãos parece ser relacionado à ballet. Viro a cabeça para ler o título, porém não consigo. Ela não fica quieta, parece se mexer constantemente. Sorrio.

Volto a olhar para as minhas páginas desgastadas. Leio dois de cada livro, mas levanto a minha cabeça mais de uma vez entre eles para encarar a garota do café com chantilly. Ela parece ter mudado de posição na cadeira mais de três vezes. O café já foi tomado por completo. Suas mãos inquietas agora fazem algumas anotações. E em um piscar de olhos, ela parece perceber que está sendo observada. Ela levanta a sua cabeça em um lampejo e fita o canto onde me encontro. Não desvio o olhar, fico grato por finalmente poder ver seu rosto. Ela é tão pequena, delicada. Mas ela não me nota, o que não é estranho, pois faz tempo que alguém não me vê de verdade.

Quando a manhã seguinte chega, revivo todo o meu ritual sem perceber e logo estou no mesmo lugar, com novos livros, mesmos sentimentos. Hoje ela não veio, a garota de dedos inquietos. Suspiro.

Ela aparece dois dias depois. Senta-se em uma mesa mais perto do meu ninho. Hoje ela veste um vestido verde claro e seu cabelo está adornado com laço pequeno. Flagro sua entrada, pois fico esperando por ela. Seu andar é gracioso e leve, como alguém cantarolando ao vento. Hoje ela toma chá, e escolhe um livro sobre política. Sorrio. É nessa hora que ela levanta o olhar, como se sentisse um sussurrar deslizando até ela.

Ela aperta os olhos em minha direção e tenho a esperança de que me veja. Não acontece. Ela pisca os olhos confusa depois de alguns segundos.  Abaixo meus olhos cansados. Será que meu ritual está finalmente sendo alterado?"

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